Na estreia de 'Roda Viva' com Marília Gabriela, Eike Batista engole entrevistadores

Na estreia de 'Roda Viva' com Marília Gabriela, Eike Batista engole entrevistadores

 

Marília Gabriela tem muito a ver com Santo Antonio, sem demérito algum para o franciscano. E muito menos para a atual apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura/Brasil. É que, como o santo, a apresentadora desenvolveu o dom da bilocalidade. Até mais. Ela está atualmente no canal por assinatura GNT, com o programa Marília Gabriela Entrevista, no SBT, com seu De Frente com Gabi, e agora na apresentação do Roda Viva.

Pontos para o talento de uma jornalista que soube se reinventar profissionalmente. Marília Gabriela multiplicou-se em atriz nos palcos e na televisão, sem que isso significasse perda de credibilidade como repórter. É prova de que a maneira como a imprensa se vê e tem sido vista mudou. E que a objetividade e neutralidade do jornalista não é mais absoluta.

O especial que antecedeu o novo Roda Viva deu bem a importância do programa, uma aula de política, economia e cultura que se aproxima dos 25 anos no ar. Foram mais de 1100 entrevistados capitais para o Brasil e, sem o menor exagero, o planeta. Do sociólogo Alain Tourraine e o geógrafo Milton Santos ao tecno-pensador Pierre Levy e o arquiteto Oscar Niemeyer. Chega a ser engraçado ouvir Lula - antes da presidência - garantir que jamais entraria para política. E ainda rever animais políticos de variada plumagem, como Fidel Castro, Hugo Chavez, Fernando Henrique e Franco Montoro.

Mas o melhor do Roda Viva sempre foram os debates acalorados, daqueles em que parece que o entrevistado está prestes a sair no tapa com o entrevistador. Caso do General Newton Cardoso, nos estertores da ditadura, e de um furibundo Leonel Brizola a xingar - várias vezes - um repórter de "rato".

Os sinais vitais do novo Roda Viva não foram tão intensos. A conversa com Eike Batista foi mais tranquila que licitação por registro de preços. Pouco foi inquirido como o empresário amealhou uma fortuna que, rapidamente, saltou para 28 bilhões de dólares, sobre a dependência da economia brasileira das exportações de ferro para a China e a estratégia de lançamento de sua empresa no mercado de ações. E aceitou-se docilmente as explicações do impacto ambiental da mineração e das relações intestinas entre governo e empresários.

Faltou debate e sobrou encanto com o homem que faz um cheque de R$ 670 milhões para pagar seu imposto de renda. Eike Batista, por sua vez, deu um espetáculo de informação e controle de informação. Mostrou-se seguro nas afirmações, irônico sem exageros e sempre bem-humorado. Com tamanha facilidade em debater e tantos conhecimentos das coisas públicas e privadas, era ele quem merecia ganhar um programa de entrevistas. Quem sabe, um Eike Show.

Roda Viva - TV Cultura - Segunda, às 22h. TV Brasil - Segunda, às 23h